Pela tarde o céu a terra e mesmo tu formam uma densa pasta de nuvens. Recordo a tua boca, as tuas pernas em arco sobre o penedo quente. Os poços entram em colapso, o verão arrasta multidões para as ravinas do lugar comum. O chapéu descaído protege-te os olhos que se movem com translúcido torpor. Agora que passaram séculos sobre esse único beijo estou sem vontade de fingir a relutância do meu desejo. Esta polaroid, já seca, encena também a minha morte. Fernando Luís Sampaio