Devo-te tanto como um pássaro deve o seu voo à lavada planície do céu. Devo-te a forma novíssima de olhar teu corpo onde às vezes desce o pudor o silêncio de uma pálpebra mais nada. Devo-te o ritmo de peixe na palavra, a genesíaca, doce violência dos sentidos; esta tinta de sol sobre o papel de silêncio das coisas - estes versos doces, curtos, de abelhas transportando o pólen levíssimo do dia; estas formigas na sombra da própria pressa e entrando todas em fila no tempo: com uma pergunta frágil nas antenas, um recado invisível, o peso que as deixa ser e esquece; e a tua voz que compunha uma casa, uma rosa a toda a volta - ó meu amor vieste rasgar um sol das minhas mãos! Vítor Matos e Sá