Variações em Dulcineia
O teu nome tem todos os sabores do mar
inteiro
Os teus olhos são marés vivas vibrantes
e todo eu estremeço quando os vejo
A tua palidez é a névoa das madrugadas belas
e quando partes eu fico tão
só
O teu corpo lembra-me o teu corpo nada se compara
A tua boca desenhada sugere-me o desenho esforçado de um retratista clássico que morreu triste por não ter achado o modelo perfeito. Deixa-me pintar-te – escrever-te esta carta cantada com o meu sangue bravio renovado.
Será tarde? Nada nunca é tarde neste canto plantado. E este é o momento claro de uma noite espantada. Deixa-me pois ser peixe no teu regaço moura rainha encarnada. Pois teu nome é mar e és já amada.
Nunca esquecerei o teu rosto os teus olhos são intangíveis marés.
Os teus olhos são marés vivas neles quero afogar a minha mágoa – e a minha revolta. Mulher esperada julguei-te perdida nos meus sonhos na minha estrada. E nunca sonhei sonhar-te. És caminho és orla e dentro como fora estás além de qualquer lenda inventada.
És meu braseiro agora calor de Inverno – oráculo sangria desatada. Como posso pôr fronteiras se tudo em volta cai à tua entrada? Abriste-me as muralhas com a tua voz flautada – e tudo em ti é música lavrada.
Diz-me segredos que a minha alma é cifrada. Nenhum amante jamais será tão desajeitado e justo na procura da onda certa o momento exacto de todos os momentos em que me queiras encontrar. És rima alinhada p´ra lá da palavra.
És linda e linda e nada se compara
ao teu riso de menina. És polpa e a tua casca é o terminal em cada onda possível de cada mar que deixas onde passas. Vem comigo - seguiremos lado a lado seremos mistério incensado. Dar-te-ei tanto amor tanto tanto – de acordo com a minha capacidade imprópria. E mesmo que não te alcance quero seguir de perto o teu corpo bailarina – e pôr uma eterna flor nos teus cabelos. Beijar-te a cara e o pescoço todo descoberto. Ter-te nua sentada perna traçada fechar-te os olhos e dizer também que o meu nome só por ti esperava para ser recta infinita partindo nas direcções todas de um desejo imenso.
És linda e linda e linda ainda -
improvável profecia de um búzio novo
Os teus lábios são o fruto das marés perdidas que Cleópatra não teve
- e Cleópatra foi amada.
Não esquecerei este momento. Tudo o que eu quero agora
é completar teu nome e servir-te de almofada
quando quiseres desaguar
no cais.
Rui A.
Publicado em 27 de Janeiro de 2013