De como a pele se cola ao medo
Entre o medo de ir e o de não ir
Entre o medo do medo
e o de ser temerário
Entre medo de acordar
E o de não ter horário
Entre o medo de pecar e o de não
ter ousado
Entre o medo do sagrado
e o do relicário
Entre o medo da besta
(que por vezes és, mais que alguns)
E o de ser bem-comportado
Entre o medo de ser apenas mais um
romano à civil
nobre escorraçado
grego na praça mais ou menos democrática
fenício como não lembra ao diabo
mendigo moderno ou medieval
monge diabético
contabilista errado
marido enganado
homem que ficou em terra
Ou que da terra partiu
escravo libertado
da puta que o pariu
filósofo inquieto
constante iletrado
paisano arrumado
militar militado
Entre o medo da busca
Entre o medo da espera
Entre o medo dos vizinhos
E o de estares só
Entre o medo de estares morto
e o de não o saberes
Escolhe de todos os maiores medos
Saberás nisso o que és e nisso
o que vales
(Se o souberes, claro, e sem nevoeiros
nada de tão impreciso como qualquer sentença)
no fundo, no pouco ou
nonada
Entre o escrever
e o ficar calado
há milhares e milhares de hipóteses
e algumas razoáveis.
No fim, dizem alguns,
o medo não é mais que uma espécie
de borbulha
E alguma coisa haveria a dizer, seguramente,
que não disse.
É o medo
Rui A.
Publicado em 15 de Fevereiro de 2013