Entre o medo de ir e o de não ir Entre o medo do medo e o de ser temerário Entre medo de acordar E o de não ter horário Entre o medo de pecar e o de não ter ousado Entre o medo do sagrado e o do relicário Entre o medo da besta (que por vezes és, mais que alguns) E o de ser bem-comportado Entre o medo de ser apenas mais um romano à civil nobre escorraçado grego na praça mais ou menos democrática fenício como não lembra ao diabo mendigo moderno ou medieval monge diabético contabilista errado marido enganado homem que ficou em terra Ou que da terra partiu escravo libertado da puta que o pariu filósofo inquieto constante iletrado paisano arrumado militar militado Entre o medo da busca Entre o medo da espera Entre o medo dos vizinhos E o de estares só Entre o medo de estares morto e o de não o saberes Escolhe de todos os maiores medos Saberás nisso o que és e nisso o que vales (Se o souberes, claro, e sem nevoeiros nada de tão impreciso como qualquer sentença) no fundo, no pouco ou nonada Entre o escrever e o ficar calado há milhares e milhares de hipóteses e algumas razoáveis. No fim, dizem alguns, o medo não é mais que uma espécie de borbulha E alguma coisa haveria a dizer, seguramente, que não disse. É o medo Rui A.