Havia um tempo Em que falávamos em privado ou em pequenos grupos Corávamos nas gerais apresentações públicas que tendiam a desassossegos de ordem vária e privavam sonos Falar em público mais que três era muitas vezes um acto de coragem proibida, e punha em causa mais que o sistema nervoso Havia um tempo em que as palavras não escolhidas Eram as ditas em casa (só algumas saíam à rua, e era preciso alguma vontade) E podíamos não ver as Conversas em Família ou rir de algum calão exemplar do Pai na reserva da sala mais chegada - “Macaco”, dizia. “Macaco” Ir ao cinema parecia uma ida à missa sem a parte dos joelhos e a parte das hóstias E os contos de Grimm pareciam feitos de gente afável Os jornais eram diariamente lidos e discutidos Para muitos entre os mais dados à palavra pelo que não diziam Um tempo de outras fracturas Um tempo de histórias à lareira e roupa foleira Que nos vestia Rui A.