Se de repente
E se de repente me aparecesses
pousava a caneta onde calhasse,
repousava caracóis no braço que guardasses
nesse teu braço tão teu tão largo e tão musical
E não queria escrever, nunca nunca mais
mais que pequenas fábulas
muito pouco vaticanas em suma
bastante mais que morais
como a do Corsário Negro até às pontas que
como é sabido pouco ou nada descansou
e povoou de miragens várias mistas donzelas
belas raparigas nem todas venezuelanas
Se de repente me aparecesses
voltava mais que súbito repentino e prestes
ao quarto de menino ainda jovem
meio quieto nos olhos da viagem
Se de repente me aparecesses
inventava histórias mil nomeadamente
em palavras curtas as caladas
nos filhos que não tive
Se de repente me aparecesses
povoava num repente as pedras de todas as calçadas
e seria finalmente mais certamente muito mais plural
no mais singular de todos os verbos
E em muitas muitas linhas te pedia como peço
conta-me histórias e aventuras dá-me pianos
que o que mais quero agora é mais que isso
e, como tão bem sabes, é feito
de silêncio
Vem
Rui A.
Publicado em 3 de Fevereiro de 2013