A poesia não é, nunca foi uma enumeração ou composto de exuberância, bondade, altitude, nem arado ou dádiva sobre chão prenhe de mortos. Nem o arrependimento de Deus por ter criado o homem com o rosto da sua memória, ao lado dos seus vermes. Tão-pouco fôlego dos que amam abrindo a porta límpida do corpo e chovendo sobre a terra, ou carregam como tartarugas o peso do mundo. Nem reverência por um tigre, pela leveza maligna de todas as patas, pela sonolência junto à estirpe aprisionada também na dureza de ser tigre. É o milagre de uma arma total, de uma só palavra reduzindo o átomo à completa inocência. António Osório