Irmão, nada é eterno, nada sobrevive. Recorda isto, e alegra-te. A nossa vida não é só a carga dos anos. A nossa vereda não é só o caminho interminável. Nenhum poeta tem o dever de cantar a antiga canção. A flor murcha e morre; mas aquele que a leva não deve chorá-la sempre... Irmão, recorda isto, e alegra-te. Chegará um silêncio absoluto, e, então, a música será perfeita. A vida inclinar-se-á ao poente para afogar-se em sombras doiradas. O amor há-de ser chamado do seu jogo para beber o sofrimento e subir ao céu das lágrimas ... Irmão, recorda isto, e alegra-te. Apanhemos, no ar, as nossas flores, não no-las arrebate o vento que passa. Arde-nos o sangue e brilham nossos olhos roubando beijos que murchariam se os esquecêssemos. É ânsia a nossa vida e força o nosso desejo, porque o tempo toca a finados. Irmão, recorda isto, e alegra-te. Não podemos, num momento, abraçar as coisas, parti-las e atirá-las ao chão. Passam rápidas as horas, com os sonhos debaixo do manto. A vida, infindável para o trabalho e para o fastio, dá-nos apenas um dia para o amor. Irmão, recorda isto, e alegra-te. Sabe-nos bem a beleza porque a sua dança volúvel é o ritmo das nossas vidas. Gostamos da sabedoria porque não temos sempre de a acabar. No eterno tudo está feito e concluído, mas as flores da ilusão terrena são eternamente frescas, por causa da morte. Irmão, recorda isto, e alegra-te. Rabindranath Tagore, trad. Manuel Simões