Dos factos
Vestia-se ultimamente
Com o primeiro facto do dia
Saía para a rua barba feita e razoavelmente calçado
Que os pés lhe hesitavam parecia que
Desde sempre mas não
Nem sempre foi assim e isso lhe dizia
A simpática porteira que o conhecera em pequeno
E desde então o sabia e julgava
Para todo o sempre então como está
O menino e a namorada
Do menino encanto do bairro
Entre meliantes vários e maus
Estudantes sempre profissionais nos entretantos
De enrolar mortalhas com que embrulhar futuros
Escassos e empregos descontentes enquanto
Empregos havia na cidade que nunca
Conheciam para lá
Do bairro
Saía ultimamente para a rua com o mesmo
Sem vontade já certificado do
Noticiário as coisas marchavam como se não
Marchassem de facto e em cada dia aparecia
Assim supunha mais um responsável pelo mau estado
De um país que se habituara ao mau estado de ser
País.
Cruzava-se invariavelmente com muita gente
No grotesco eléctrico para 24 de Julho
Data que nada lhe dizia ou tocava
Mais por ignorância que por hábito
(é hábito distinguir entre)
E reparava nos olhos esquecidos de ser olhos
Nas pessoas mais feias das primeiras horas
Sabendo que outras seguiriam para já não tardando
Que outras seguiriam mais pontuadas decerto
Por maravilhosas figuras com maravilhosos destinos
Gente compenetrada e caras bonitas certas de ter caminho
Onde iam
Tudo o convencia que devia ser outro
O facto que vestia
Rui A.
Publicado em 4 de Abril de 2013