Eu morro dia a dia, sabendo-o, sentindo-o, com a morte do amor em mim. Esvaiu-se, ensandeceu, partiu, espécie de sol sepultado por mãos ímpias, numa cratera de lua, algures, ou na tristeza de um retrato emudecido pela ausência de vozes em redor. Sem ele, a casa ficou deserta de risos, acenos e afectos, de tudo, as mãos ficaram ásperas, secas, a pele do rosto gretada, fria, e o sangue tornou-se lento e espesso, incapaz de dar vida às pequenas folhas orvalhadas da imaginação das noites. A erva cresce em redor de mim, os limões ficaram ressequidos sobre a toalha bordada, num canto da mesa. O amor tudo mata quando morre, detendo no seu movimento elementar, a máquina que ilumina o coração do dia. José Jorge Letria