Imaginar a forma doutro ser Na língua, proferir o seu desejo O toque inteiro Não existir Se o digo acendo os filamentos desta nocturna lâmpada A pedra toco do silêncio densa Os veios de um sangue escuro Um muro vivo preso a mil raízes Mas não o vinho límpido de um corpo A lucidez da terra E se respiro a boca não atinge a nudez una onde começo Era com o sol E era um corpo Onde agora a mão se perde E era o espaço Onde não é O que resta do corpo? Uma matéria negra e fria? Um hausto de desejo retém ainda o calor de uma sílaba? As palavras soçobram rente ao muro A terra sopra outros vocábulos nus Entre os ossos e as ervas, uma outra mão ténue refaz o rosto escuro doutro poema António Ramos Rosa