Se tu és a égua de âmbar eu sou o caminho de sangue Se tu és o primeiro nevão eu sou quem acende a fogueira da madrugada Se tu és a torre da noite eu sou o cravo ardendo em tua fronte Se tu és a maré matutina eu sou o grito do primeiro pássaro Se tu és a cesta de laranjas eu sou o punhal de sol Se tu és o altar de pedra eu sou a mão sacrílega Se tu és a terra deitada eu sou a cana verde Se tu és o salto do vento eu sou o fogo oculto Se tu és a boca da água eu sou a boca do musgo Se tu és o bosque das nuvens eu sou o machado que as corta Se tu és a cidade profunda eu sou a chuva da consagração Se tu és a montanha amarela eu sou os braços vermelhos do líquen Se tu és o sol que se levanta eu sou o caminho de sangue Octavio Paz, trad. Luis Pignatelli