Da minha cidade
Na minha cidade eu molho os pés até ao joelho
Tenho a sorte de ter um rio que não depende inteiramente
de autarcas no desenho das margens
e no que está entre elas
(e ai como eu admiro o conceito de autarca, qualquer poder ser pode ser
admirável)
Na minha cidade banho-me de sol quando me lembro
e quando o sol me entra olhos dentro e fura esquecimentos
Nos dias de extremo calor é um pouco chato, mas admito
que haja, sei que há, pior e melhor transpiração
à luz e às escuras.
A minha cidade é belíssima e discuto com ela quase todos os dias
Por vezes tem excesso de pessoas por vezes faltam-lhe pessoas
e tenho a tendência para olhar de fora do problema.
A minha cidade é exageradamente feia quando a aceito
sem reservas, sem ponta de zanga,
na falta de dignidade de alguns condóminos
e condomínios.
A minha cidade leva-me ao populismo fácil
e não gosto nada quando um sujeito que não é de cá,
seja ele a mais bela cidadã de Bruges ou um cabeçudo do meu país,
lhe aponta sarjetas e escombros e prédios limpos entre outros sujos.
É esse, entre outros, o tempo de várias certezas
O tempo em que sei que mereço
e não mereço
esta cidade
que oferece em bolsos traquinas
água a quem passa,
dos pés ao joelho
e por aí adiante.
Rui A.
Publicado em 10 de Julho de 2013