Na minha cidade eu molho os pés até ao joelho Tenho a sorte de ter um rio que não depende inteiramente de autarcas no desenho das margens e no que está entre elas (e ai como eu admiro o conceito de autarca, qualquer poder ser pode ser admirável) Na minha cidade banho-me de sol quando me lembro e quando o sol me entra olhos dentro e fura esquecimentos Nos dias de extremo calor é um pouco chato, mas admito que haja, sei que há, pior e melhor transpiração à luz e às escuras. A minha cidade é belíssima e discuto com ela quase todos os dias Por vezes tem excesso de pessoas por vezes faltam-lhe pessoas e tenho a tendência para olhar de fora do problema. A minha cidade é exageradamente feia quando a aceito sem reservas, sem ponta de zanga, na falta de dignidade de alguns condóminos e condomínios. A minha cidade leva-me ao populismo fácil e não gosto nada quando um sujeito que não é de cá, seja ele a mais bela cidadã de Bruges ou um cabeçudo do meu país, lhe aponta sarjetas e escombros e prédios limpos entre outros sujos. É esse, entre outros, o tempo de várias certezas O tempo em que sei que mereço e não mereço esta cidade que oferece em bolsos traquinas água a quem passa, dos pés ao joelho e por aí adiante. Rui A.