Canção do Ano 86
(generosidade de leitor assíduo e discreto)
Agora quando volto
quando é raro voltar e sempre por um dia
estou à minha espera na ponte de Santa Clara
com um ramo de rosas que levanto
à aproximação do carro
saudando-te caro Fernando Assis Pacheco
filho pródigo destes quintais floridos
quando acontece que volto
que assim volto por pouquíssimo tempo dou comigo
na berma da EN 1 a olhar à esquerda o Vale do Inferno
hoje estragado por um sacana qualquer dum engenheiro
dizendo adeus adeus Fernando Assis Pacheco
menino antigamente sem cuidado
se é que volto intimado pela agenda
do jornal em Condeixa já inquieto espreito
a ver se vens do lado de Pombal
oitavo duma fila atrás do camião
coçando a barba gesto bem teu
com que disfarças o nervoso e a pressa
volto sem querer quando decerto
mais não queria voltar
encasacado anónimo de olho circunvago
Leiria num relance prego no fundo
apetecia parar ao pé de ti Fernando Assis Pacheco
cálido aceno do que morreu
conversamos os dois sobre esse século esses
cafés com quatro mesas e matraquilhos na cave a cheirar a bolor
essas aulas a que faltávamos no último período para empatar cinco
a cinco com os varões todos torcidos
consta que desde então
não fazes mais do que perder
Fernando Assis Pacheco
Publicado em 9 de Agosto de 2013