coisas há que a vida transfigura como se de repente o tempo se abrisse e o que era sagrado fosse mais sagrado e mais belo o movimento sobre o movimento e em cada cúpula a pomba anunciasse o derradeiro sinal tantas vezes sonhado e esperado. sobre a surpresa outra surpresa paira e a sucessão dos dias e das noites é à memória que sempre deve tudo quando na cintilação outra luz se abre e sobre a praia uma criança corre com o passado nos olhos onde o futuro vibra e a fulguração de um rosto alastra para sempre sobre a linha clara da rebentação. falando de tristeza há um vínculo que se cumpre porque tudo se cumpre quando se acredita e há-de ser o amor o bem que se procura nesse laço que a memória pressente no presente e vem iluminar o fio indivisível do mistério que arde em toda a parte. o poema o revele e o nome que o assine e a total alegria com que se entregue o poeta, nem sequer inocente, nem sequer indeciso, porque o céu testemunha o que já está escrito e a estrela que brilha é a estrela da tarde e brilha mais o brilho em que se acredita. Amadeu Baptista