O Bosque Cintilante
coisas há que a vida transfigura
como se de repente o tempo se abrisse
e o que era sagrado fosse mais sagrado
e mais belo o movimento sobre o movimento
e em cada cúpula a pomba anunciasse
o derradeiro sinal
tantas vezes sonhado e esperado.
sobre a surpresa outra surpresa paira
e a sucessão dos dias e das noites
é à memória que sempre deve tudo
quando na cintilação outra luz se abre
e sobre a praia uma criança corre
com o passado nos olhos onde o futuro vibra
e a fulguração de um rosto alastra para sempre
sobre a linha clara da rebentação.
falando de tristeza há um vínculo que se cumpre
porque tudo se cumpre quando se acredita
e há-de ser o amor o bem que se procura
nesse laço que a memória pressente no presente
e vem iluminar o fio indivisível
do mistério que arde em toda a parte.
o poema o revele e o nome que o assine
e a total alegria com que se entregue o poeta,
nem sequer inocente, nem sequer indeciso,
porque o céu testemunha o que já está escrito
e a estrela que brilha é a estrela da tarde
e brilha mais o brilho em que se acredita.
Amadeu Baptista
Publicado em 11 de Setembro de 2013