Realejo
De repente escrever era um plano era um verbo escrever
era quase um piano
Espécie de toalha no dia feito e mil vezes refeito nos dias postos
por fazer
De repente era sempre de repente era instante
De repente era urgente de repente bastante
De repente era tudo muito poucochinho
De repente era outra vez pequenino
De repente era a gente a pôr-se em forma de gente
de forma diferente
Como dizia um especializado surrealista do burgo
nem sempre amigo nem sempre bestial
no seu suficiente compor de sentidos figura e fisga
(um tipo simpático, esqueci-lhe o nome)
tudo isto se passava num instante e bem depressinha
mais mais que ao correr da linha
Com línguas diversas e jogos de mata
heróis bonecose espadas de lata
medos de bichos e coisas de vários tamanhos e condições
difíceis noções de sucesso
fortes doses de invisível
visitas partindo e chegando no processo
presentes variados
uns quantos sonâmbulos vagamente equilibristas
alguma ginástica,
e as alminhas que houvesse talvez em espargata
E havia sempre, dizia o pouco amigo dado a filmes,
um besouro na reciclagem dos tempos
Por mais que o pensasse, mesmo em parvo,
não o diria melhor.
Crisóstomo Filho
Publicado em 20 de Setembro de 2013