Aos inocentes Se vos perguntassem, à queima-roupa A inocência é uma virtude? Eu cá não respondia Tentava desconversar Diria: «— Vossemecê já leu Cézanne?» Algumas pessoas esquecem-se de mentir E afirmam: «— Não faço ideia!» Não podemos obrigá-las a todas. Naturalmente, a inocência não é uma virtude Porque, passado tempo, seria de desconfiar A minha tia tinha imensas virtudes. Ainda as tem. E ela é velha. Os Gregos também tinham virtudes E os Gregos não eram inocentes Visto que guilhotinaram Sócrates. É difícil de julgar, claro, nós não estávamos lá Mas o mais seguro, em semelhante circunstância É abster-nos de responder E tentar desconversar... Caso não se consiga, podemos sempre suicidar-nos. Boris Vian