O silêncio colocou-se sozinho na estante sem qualquer intervenção ou impulso digno de registo. O silêncio subiu as prateleiras e as lombadas e algumas molduras cheias de fotografias que evitava. O silêncio colocou-se sozinho nas estantes sem esforço ou ponta de milagre, era assim este silêncio - uma espécie de engenharia pouco explicada nos cadernos da ciência e da falta de corrente de ar E estava para lá, este silêncio, do muito e do nada, das muitas dores revoltas nações e noções que atravessaram séculos e gentes desde que os romanos surgiram (e tantos quantos antes deles). Quantas maravilhas e infâmias, desde então Este silêncio não era suficiente e não bastava Não tinha militâncias graves ou agudas Não tinha coragem não tinha desistência Este silêncio não tinha letras nem palavras Este silêncio não tinha penas nem vôo, apenas estava E em dias compostos em tons de joelho e gema este silêncio não dava qualquer abraço ao tempo - mas também não o apertava. O silêncio, ou melhor, este silêncio tinha patas fortes e cheias de nada No meio de tudo isto, reparou, Estava descalço. Rui A.