De muitos tempos, já antes dos romanos
O silêncio colocou-se sozinho na estante
sem qualquer intervenção ou impulso digno de registo.
O silêncio subiu as prateleiras e as lombadas e algumas molduras
cheias de fotografias
que evitava.
O silêncio colocou-se sozinho nas estantes sem esforço ou ponta
de milagre, era assim este silêncio
- uma espécie de engenharia pouco explicada
nos cadernos da ciência e da falta de corrente
de ar
E estava para lá, este silêncio,
do muito e do nada,
das muitas dores revoltas nações e noções que atravessaram
séculos e gentes
desde que os romanos surgiram
(e tantos quantos antes deles).
Quantas maravilhas e infâmias, desde então
Este silêncio não era suficiente e não bastava
Não tinha militâncias graves ou agudas
Não tinha coragem não tinha desistência
Este silêncio não tinha letras nem palavras
Este silêncio não tinha penas nem vôo, apenas estava
E em dias compostos em tons de joelho e gema
este silêncio não dava qualquer abraço ao tempo
- mas também não o apertava.
O silêncio, ou melhor, este silêncio
tinha patas fortes e cheias
de nada
No meio de tudo isto, reparou,
Estava descalço.
Rui A.
Publicado em 5 de Outubro de 2013