Lembro que a Augusta vizinha de cima abafava com os seus gritos qualquer pôr de Lua e nunca se percebeu bem porquê - afinal tinha apenas trinta e cinco frescos anos um corpo fresco (pouco subtil, mas fresco ainda assim) o marido em Angola e na casa algum movimento de molas. O senhor Augusto do 1º esquerdo mesmo ao lado não fazia mais da vida que dedicar-se às reuniões de condomínio e à eterna para ele problemática dos elevadores e beatas algumas que encontrava no tapete, bem como a pormenores que nunca ninguém verdadeiramente quis perceber quais eram. Não vivia sozinho mas era como se fosse. No segundo havia um certo descanso, do esquerdo ao direito a mesma casa, de um piloto de automóveis vagamente conhecido que apesar de poucos sucessos não ali morava. Mas tinha a casa, e sempre era menos um problema no prédio que não incomodava. No terceiro esquerdo o terror do prédio de seu nome Alfredo (ou a puta que o pariu coitada), traficante de sucesso e musculatura assustadora - naturalmente que boa parte dos problemas dos elevadores vinham directos do seu empreendedorismo, se bem que fosse mais fácil atirar as culpas aos donos das beatas de baixo que mais não tinham que fome e trocos. Ao lado do Alfredo vivia Jesuína, mulher magra que nem apelido tinha e vivia consumida pelo medo de incomodar, o que no contexto até se compreendia. E assim continuaria, mas era uma casa velha de seis andares e estou cansado. Não se ouvia Bach e fui viver no telhado do prédio ao lado. Quanto ao resultado, é ainda cedo ou talvez tarde que mereça ser contado Recordo porém nas noites minguante ou de Lua cheia que havia uma vizinha linda naquele prédio. Mas essa é uma história longa e recheada de erotismo longamente refreado Sabe-se lá porquê que Bach continua calado Rui A.