Os meus ouvidos escutam cada vez menos as conversas, os meus [olhos enfraquecem, continuando porém insaciados. Vejo as pernas delas de mini-saia, de calças, [ou de tecidos vaporosos, Espreito cada uma, os seus rabos e coxas, pensativo, [embalado por sonhos porno. Ó lascivo velho jarreta, estás com os pés para a cova [e não para os jogos e brincadeiras da juventude. Mas não é verdade, faço apenas aquilo que sempre fiz, [compondo as cenas desta terra, movido pela [imaginação erótica. Não desejo justamente estas criaturas, desejo tudo, e elas são como um sinal de convívio extático. Não tenho culpa de sermos feitos assim, metade de [contemplação desinteressada e metade de apetite. Se depois de morrer for para o Céu, lá, terá de ser como aqui, apenas hei-de livrar-me dos sentidos entorpecidos [e dos ossos pesados. Transformado em puro olhar, continuarei a absorver [as proporções do corpo humano, a cor dos lírios, a rua parisiense [na madrugada de Junho. Enfim, toda a inconcebível, a inconcebível pluralidade [das coisas visíveis. Czesław Miłosz, trad. Elżbieta Milewska e Sérgio das Neves