Às páginas tantas
Eu quero verdadeiramente quero que escorram dedos
pelas janelas os teus dedos e que façam festas nos meus cabelos
os teus dedos esses mesmos dedos que nunca fizeram festas
nos meus cabelos.
Eu quero verdadeiramente quero que cruzes teus pés nos meus
esses teus pés que nunca cruzaram com os meus
E quero que escorram no meu peito os teus vários peitos
E que as tuas coxas se avariem no meu braço
em toda a tua violência toda inteira.
Eu quero verdadeiramente tudo isso
e quinhentos.
Quando eu morrer põe-me cravos à janela
Eu não os vou ver é apenas um favor que te peço
E sabes bem que não o faria se o achasse difícil
(até a vizinha Beatriz que nunca foi dócil tem cravos à janela;
verdadeiros, na janela de onde cusca os vizinhos).
Quando eu morrer e eu sei que vou morrer um dia
encontra uns morangos bons aí no bairro
ou vai colhê-los ao campo ou à quinta velha,
come-os devagar e convida uns amigos que não se importem
de uma fruta lenta vermelha e com vincos.
Nunca gostei muito de morangos devias sabê-lo
mas sei como gostas de morangos
sempre gostaste que eu saiba
pode ser que assim mais agradada com o dia
não canse tanto
a busca dos cravos
os cravos que eu queria.
Já não estou aqui, tornou-se mais fácil
querer que verdadeiramente escorram dedos
pelas janelas os teus dedos e que façam festas nos meus cabelos
os teus dedos esses mesmos dedos que nunca fizeram festas
nos meus cabelos.
Tenho algum receio das teorias indianas.
E que tudo se repita.
Crisóstomo Filho
Publicado em 24 de Novembro de 2013