Querida vem junto de mim Esta noite quero cantar Uma canção para ti Uma canção sem lágrimas Uma canção ligeira Uma canção de charme O charme das manhãs Envolvidas em bruma Em que valsam coelhos O charme dos pântanos Onde alegres crianças louras Pescam crocodilos O charme dos prados Que se ceifam no Verão Para podermos rebolar-nos O charme das colheres Que rapam os pratos E a sopa de olhos claros O charme do ovo cozido Que permitiu a Colombo O truque mais luzido O charme das virtudes Que dão ao pecado O gosto do proibido Podia ter-te cantado Uma canção de carvalho De ulmeiro ou de choupo Uma canção de plátano Uma canção de teca De rimas mais duráveis Mas sem ruído nem alarme Preferi experimentar Esta canção de charme Charme do velho notário Que no estúdio austero Denuncia o falsário Ou o charme da chuva Escorrendo gotas de ouro Sobre o cobre do leito Charme do teu coração Que vejo junto ao meu Quando penso no bem-estar Ou o charme dos sóis Que giram sempre em volta De horizontes vermelhos E o charme dos dias Apagados da nossa vida Pela goma das noites Boris Vian, trad. Irene Freire Nunes e Fernando Cabral Martins