Nestas coisas de epitáfios
Nestas coisas de epitáfios acho que vai já sendo célebre
a entrada de um célebre rapaz, tambor talvez em Austerlitz
(acho que dava por nome Guilherme, talvez fosse Joaquim),
onde morreram tantos e tantos que não couberam
(não caberiam nunca)
nos cadernos de Tolstoi.
Digo Austerlitz porque é um bom nome para morrer, e sonante
- à falta de melhor, melhor que alguns outros.
Nesta coisa de epitáfios nunca lembramos as dores
de Dona Maria das T’rinas que nas agonias de Madragoas
e bordéis de várias esquinas
deixou ao justo de algum céu que houvesse encargos de justiça
e algumas dívidas por cobrar, de alguns sobrinhos e de outros menos parentes,
todos eles bastante intencionados ou pelo menos distraídos,
no mal que lhe coube.
Nesta coisa de epitáfios tudo sabe melhor
(dizem uns quantos patetas),
que qualquer história de putas, por boas que fossem.
Nesta coisa de epitáfios sabe bem pensar que alguém
vai pousar uma flor ou uma cereja,
breve e fina,
no teu caixão.
E um cantar cigano, que é o mais que podemos esperar nós
no horror que temos ao povo cigano
de Austerlitz
Nestas coisas de epitáfios um berço é tudo
mais o resto
Rui A.
Publicado em 21 de Novembro de 2013