O nosso quarto habitual. As paredes erguem-se tal qual como combinado. A janela desdobra-se, completa com os cortinados fechados. Poderia ser ao princípio da noite ou ao fim do dia. Penumbra inalterável. algumas chalaças sobre a luz do dia que menos e menos suporta. O odor a madeira e a tangerinas muito maduras. Olha, ali surgem os armários, a cama de casal delineia-se com os seus lençóis e os cobertores, a colcha com a mancha exactamente no mesmo sítio. Lá em baixo recompomos as nossas caras, sentamo-nos à mesa e a vista enche as ombreiras: quintas, três árvores a abanar. Sabemos de antemão o que iremos agora comer: a entrada, que é sempre um desapontamento, o bife e a tarte de maçã. Estamos mais velhos, entretanto podemos pagar uma coisa melhor. Aqui chove a maior parte do ano. O perigo maior envolve-nos com o mesmo lugar, o mesmo quarto. Arriscamo-nos a ter hábitos, amamo-nos. Repetimo-nos. Ester Naomi Perquin, trad. Maria Leonor Raven-Gomes