Um domingo de manhã com sol, tão fácil apaixonar-se, acordar mais tarde, talvez em Abril ou nas súbitas variações primaveris do final de Fevereiro, é fácil apaixonar-se – apaixonei-me por ti muitas vezes no cais – do azul, das conversas dos amigos, sorrisos. São estes céus insuperáveis, sempre demasiado breves as horas para as pupilas, a condicionar as nossas mentes, as psicologias, e já não sei viver na esterilidade sem sentido de culpa. O que poderia ser – as folhas nesta avenida comprida, os papéis nos grandes contentores da freguesia, de madeira – entre nós. As dissonâncias. A nossa fronteira são os Alpes quase azuis, a neve de ontem à noite faz-nos falar, sentia-se que estava para cair. Se caísse sobre a cidade sobre a praia como em oitenta e cinco, as escolas fechadas, a irrealidade de tudo – outros desesperos. Os chuviscos tardios nas avenidas que se alagam facilmente nos lados e à noite muitas vezes se encontra uma névoa amanteigada como se estivéssemos no parmigiano. Seguem-se mal-estares, olheiras, por factos tão repentinos e depois as danosas marulhadas, mas também estas com a sua misteriosa violência, também estas são qualquer coisa que deve existir. Gabriel del Sarto, trad. Andrea Ragusa