Por vezes penso como tudo podia ser diferente Por exemplo se me chamasse Humberto se usasse um chapéu de coco se saísse para a rua despenteado com ar de acordar para o dia Por vezes penso como seria diferente se tivesse continuado as botas e os passeios martelados a ferros e a ginástica e se tivesse verdadeiramente aprendido a lançar os dados nos bares do meubairro. Por vezes penso como seria quiçá diferente se me tivesse dado com mais gente da minha idade, se tivesse privado de forma continuadae exclusiva públicos mais ilustrados, com nomes estrangeirados - os mais populares. Por vezes penso como seria diferente se tivesse olhado de frente os teus olhos claros com toda a timidez e a coragem das flores incultas. Por vezes penso nas vezes que fugi do escuro Por vezes penso nos medos vários - desde os reais bandidos nos lençóis (logo após um episódio de Pesquisa a preto e branco, a fazer enorme o corredor para o quarto) ao pavor verdadeiro, nos quinze anos das mais penosas e parecidas velas, de não conseguir mastros suficientemente preparados para descompor com tino dias de colchão. Não há termo nem herança nem lembrança que apague a fome e o pouco apetite deste nome. E é bom, verdadeira e estupidamente bom não me chamar Humberto, até o próprio agradece. No entretanto penso por vezes como seria diferente se tivesse olhado de frente os teus olhos claros, se os tivesse visto. Com toda a timidez, inteira. E a coragem - das flores incultas. Rui A.