Dos tamanhos de um chapéu
Por vezes penso como tudo podia ser diferente
Por exemplo se me chamasse Humberto
se usasse um chapéu de coco
se saísse para a rua despenteado
com ar de acordar para o dia
Por vezes penso como seria diferente
se tivesse continuado as botas e os passeios
martelados a ferros e a ginástica e se tivesse
verdadeiramente aprendido a lançar os dados
nos bares do meubairro.
Por vezes penso como seria quiçá diferente
se me tivesse dado com mais gente
da minha idade,
se tivesse privado de forma continuadae exclusiva
públicos mais ilustrados, com nomes estrangeirados
- os mais populares.
Por vezes penso como seria diferente
se tivesse olhado de frente os teus olhos claros
com toda a timidez e a coragem das flores incultas.
Por vezes penso nas vezes que fugi do escuro
Por vezes penso nos medos vários
- desde os reais bandidos nos lençóis
(logo após um episódio de Pesquisa a preto e branco,
a fazer enorme o corredor para o quarto)
ao pavor verdadeiro, nos quinze anos das mais penosas
e parecidas velas,
de não conseguir mastros suficientemente preparados
para descompor com tino dias de colchão.
Não há termo nem herança nem lembrança
que apague a fome e o pouco apetite deste nome.
E é bom, verdadeira e estupidamente bom
não me chamar Humberto,
até o próprio agradece.
No entretanto penso por vezes como seria diferente
se tivesse olhado de frente os teus olhos claros,
se os tivesse visto.
Com toda a timidez, inteira.
E a coragem
- das flores incultas.
Rui A.
Publicado em 28 de Janeiro de 2014