Próximo já do subúrbio os passageiros envelhecem, sua face reflecte-se nas janelas sem paisagens. São estranhos, ainda que de alguma maneira se conheçam, como essa mulher que subiu na praça do mercado, com os sacos de compras transbordantes de salsa por pouco se escapa do abrigo o seu corpo magro, é como se vestisse roupas alheias, quiçá não me tenha visto, quiçá eu tampouco quisesse que me cumprimentasse; assim nos recolhemos numa imaginária indiferença, como um casal desavindo. Estrangeiros, ainda que de alguma maneira conhecidos são aqueles também; como se nada tivesse acontecido, entraram desde cima — atravessando a terra — no comboio em marcha, com calças de linho branco e blusa estampada. E nós, nessa meia-luz subterrânea não compreendemos o seu resplandecente ser, preferiríamos recolhermo-nos, se houvesse para onde, apertando-nos, negro contra negro, esperando o fulgor da chegada, enquanto olhamos o nosso tempo em relógios de pulso alheios. Já faz tempo que ultrapassaram os sessenta. Então, esse túnel ainda não se tinha construído; mas estes dois não se incomodam com tais bagatelas, é como se ainda fossem a uma borga, bebem, despem-se antecipando-se, abraçam-se atravessando as capas das roupas e dos corpos, e nós, que para sobreviver renunciamos à nossa juventude, buscamos temerosos nossa face de antigamente em seu rosto; essa ligeira liberdade, que desperdiçamos juntamente com o nosso charme. István Ágh