Sento-me no jardim, a fumar e a olhar para o que vou deixar. Nunca imaginei que me pudesse acontecer uma coisa destas, passo os dedos por objectos que nunca tocara antes, quero saber o nome de todas as folhas destas flores. Se há mãos pretas são de tinta de jornal (era no tempo em que os jornais cheiravam a tinta), ou então as mãos pareciam escuras, mas não eram, havia só uma sombra que lhes dava de dentro da minha perspectiva inquinada e oblíqua. Os jardins são coisas perigosas, levam à ausência de interrogação sobre o sentido verdadeiro da vida. Ah, não sabem o que é o sentido verdadeiro da vida? Só um momento, que já vos digo. Helder Moura Pereira