O sentido verdadeiro da vida
Sento-me no jardim, a fumar
e a olhar para o que vou deixar.
Nunca imaginei que me pudesse
acontecer uma coisa destas,
passo os dedos por objectos
que nunca tocara antes, quero
saber o nome de todas as folhas
destas flores. Se há mãos pretas
são de tinta de jornal (era no tempo
em que os jornais cheiravam
a tinta), ou então as mãos
pareciam escuras, mas não eram,
havia só uma sombra que lhes dava
de dentro da minha perspectiva
inquinada e oblíqua. Os jardins
são coisas perigosas, levam
à ausência de interrogação
sobre o sentido verdadeiro
da vida. Ah, não sabem o que é
o sentido verdadeiro da vida?
Só um momento, que já vos digo.
Helder Moura Pereira
Publicado em 9 de Janeiro de 2014