Ou mais
2014, 2013
Serve uma colher ou o que seja,
Mesmo que seja mortalha
Com que arranque a verdade em vários dias
Serve um silêncio, mesmo se aflito
Um silêncio despido de grito
Um silêncio feito de apito
Palavras que valham o que é dito
Marés mais ou menos sensatas que sejam
Olhos com que ouça o mar bravio
Olhos de ver navios
A canção que fica
Para lá do que fomos e somos
Entre outras que vão mais ao gosto
- obviamente intraduzíveis,
A necessidade e a falta dela
Um respirar deliberado
Alguma bastante companhia
Contigo perto
Reuniões a marcar outras
Portas, muitas portas
Encontros corais e outros mais que tais
O concerto para George Harrison
Uma sede plural e mais económica
Uma vida bonita que apeteça o dia
Ao preço da vinha
Muitas flores, não mais que as que bastam
Um pouco de sol no inverno
(que seja o inverno completo)
E de fresco no verão
(um Verão maiúsculo)
Um conforto que apetece
Faz falta alguma preguiça
E uma revolta urgente
De quem acredita
Um livro bom que não seja o último
(caramba, que não seja o último)
Um poema que escreva por dentro e não precise de outro
Artesanato contemporâneo, urbano ou não
Boas doses de banal
Uma preocupação insistente, o mundo precisa e tu também
Um razoável apetite
Uma forte dose em doze de irrazoável
Um quarto que seja o meu
Um quarto que seja o meu
Uma ponta de sorte
Algum merecimento
E a quinta parte de um sonho
A quinta parte de um sonho
Ou mais
Rui A.
Publicado em 3 de Janeiro de 2014