Perto da catedral de Reims carregada de estátuas, o palácio do bispo tornou-se um museu, albergando muitas pedras gastas pelo uso, pelos bombardeamentos, pelas renovações e pelo raro e tonitroante Te Deum. Santos e anjos enormes protegidos do tempo erguem-se acima de nós. Os seus semblantes foram esculpidos para mostrar uma alma - uma face da graça acima das guerras, das pestes, do fedor das gentes em congregação - aos crentes por eles diminuídos. Agora, fragmentos e falhas provam que estes colossos emprestados pelo Céu se tornaram posse do terreno mal, que o calcário, macio ao cinzel, se quebra facilmente. Olhai aqui! - um flanco cindido e fracturado revela uma concha minúscula, única, intacta, salva de desaparecidos mares pré-cristãos, escuros, imensos. Às gentes piedosas, movendo-se em baixo, elevando o olhar à imensidão sagrada, faltava-lhes a ciência para deduzir, a partir desta pequena pista, o que queria dizer a ausência poderosa. John Updike, trad. Ana Luísa Amaral