Poucas vezes a beleza terá sido tanta como no lustro preto dos sacos de lixo à porta dos hotéis, dos armazéns, das casas de comida nas mais pequenas horas da noite em Londres. Estão amontoados fechando o esterco, os lençóis com sangue, os restos apodrecidos, adesivos negros que parecem afagos. Os homens ao lançá-los nas fornalhas são erguidos a imaginações malditas, à feroz acção de deuses nos vulcões, ao odor sacrílego de alquimistas mortos. Ir na luz eléctrica e ver esses maços de treva, essa cor quase molhada dos plásticos a parecer verniz, a parecer chamar-nos, a dar-nos o sebo como se fosse a arte, tem um fervor que finda o pequeno mal, a vida. Joaquim Manuel Magalhães