Em Veneza, velho e envelhecido, quase mudo, rodeado de livros, de solidão, de gatos, o poeta Ezra Pound, falou, num breve, muito breve encontro, com Grazia Livi. Comentou-lhe, sem autocompaixão e sem desprezo, secamente, com voz entrecortada: «No fim penso que não sei nada. Não tenho nada para dizer, nada.» Se depois de tão alto exemplo, de tão clara sentença, ainda continuo a escrever e risco palavras no fumo, não é, que a morte me livre, por bastardo interesse ou absurda vaidade, mas apenas por uma simples razão, porque não conheço outro meio, a não ser o suicídio - desnecessário é um poema como um cadáver -, para dar testemunho de nada a ninguém, do mundo que contemplo, desta vida, do seu horror gasto e quotidiano. Que o velho Pound, na sua cova, me perdoe por ligar o seu nome a estas sórdidas palavras desesperadas. Juan Luis Panero