Estou sentada na cozinha, enquanto a massa ferve. Amo as coisas concretas descobrir seus nomes ao pequeno-almoço: despertador, chuva na calçada, supermercado, beijos na siesta, um copo de vinho, amigos, as pequenas mãos de meu filho, pessoas na praça, tu... Elas produzem as mais doces e lânguidas cócegas, como um banquete após o jejum. Parece-me impossível afastar-me de tais coisas: colam-se à minha caneta e parece que não consigo sacudi-las. No entanto, as coisas concretas não permitem atrasos, e a massa já está pronta. Assim é a vida. Quando o semear do poema começava a germinar, eis que o mundano vem intrometer-se. E lá tenho eu que me levantar da mesa, enquanto a sombra de um bilioso humor assenta. Miren AgurMeabe