Os amantes aparecem no verão, quando os amigos partiram para o sul à sua procura, deixando um lugar vago à mesa, um bilhete entalado na porta, as plantas, o canário, um beijo e um livro emprestado: a memória das suas biografias incompletas. Os amigos desaparecem em agosto. Consomem-nos as labaredas do sol e os amantes que chegam ao fim da tarde jantam e de manhã ajudam a regar as raízes das avencas que os amigos confiaram até setembro, quando regressam trazem saudades e um romance novo debaixo da língua. Levam um beijo, os vasos, as gaiolas e os amantes deixam um lugar vago na memória, cabelos na almofada, uma carta, desculpas, e um livro de cabeceira que os amigos lêem, pacientes, ocupando o seu lugar à mesa. Maria do Rosário Pedreira