(À maneira de Vermeer) Rua do Loreto. Todas as visões do mundo são parciais. Como uma invenção de Vermeer as traseiras de um edifício antigo podem ser os limites da minha moldura. Nada há de exaustivo no olhar humano. A chaminé de tijolo tinge o céu de um vermelho débil que ele nunca teve. Um universo de vozes, infectos cheiros de cozinhas adjacentes, ruídos que quebram o alheamento que sobre as fechadas se perpetua. Em baixo, uma varanda onde nunca está ninguém. Nada sei da ausência que a varanda desvenda. Do lado esquerdo, o parapeito alto confere-me a certeza de que os meus domínios foram encontrados. Neste perímetro de luz procuro a consistência dos sentidos. O território com que se abastece uma paixão descritiva, o lastro da imaginação. Luís Quintais