M. Degas Teaches Art & Science At The Durfee Intermediate School - Detroit, 1942 Ele fez uma linha no quadro, um traço negro da direita para a esquerda a descer e recuou para perguntar, sem olhar para ninguém em particular como de costume: "O que é que eu fiz?" Do fundo da sala Freddie exclamou: "Quebrou um pedaço de giz." O senhor Degas não sorriu. "O que é que eu fiz?" repetiu. Os alunos mais inteligentes concentraram o olhar nas escrivaninhas excepto Gertrude Bimmler, que levantou a mão antes de falar. "Senhor Degas, o senhor criou a hipotenusa de um triângulo isósceles." Degas meditou. Toda a gente sabia que Gertrude não podia estar errada. "É possível," precisou ainda Louis Warshowsky, “que tenha começado a representar o telhado de um celeiro." Lembro-me de que passavam exactamente vinte das onze, e eu pensei que na pior das hipóteses isto continuaria por mais quarenta minutos. Era o início de Abril, a neve não tinha ainda derretido nos pátios do recreio, os olmos e o ácer bordejando passeios rachados tremiam com o vento novo, e ocorreu-me que antes que me desse conta estaria a caminho da loja de doces para comprar um Milky Way. O senhor Degas enrugou os lábios e a aula acalmou até que o braço longo do relógio se moveu para o vinte e um como que em cumplicidade com Gertrude, que acrescentara confidente: "O senhor começou a separar o escuro do escuro." Voltei-me a pedir ajuda mas agora as árvores resistiam e tremiam e eu percebi que isto podia durar eternamente. Philip Levine