Diz
Diz-me do sabor das magnólias, essas flores tão simpáticas,
Flores de meninos de todas as raças.
Diz-me do chão.
Fala-me de várias plantas, outras, diversas e impossíveis
diz como é possível desenhar um vaso um frasco e a cauda de um cão
e põe-lhe um pedaço de sombra à janela
Irei buscar da terra um pouco de pano de mil cores
(apenas para que não tenha frio)
ou não.
Serei mais ou menos atento vogal
e consoante
Diz. Diz como quem fala e de que falam as rosas.
Diz das folhas diz do sopro diz dos ventos
e de alguma fábula antiga mais recente
em todos os Outonos.
Respira o azeite e diz como vivem as marés na planta dos pés.
Diz do dia que tropeça nas manhãs despertas preguiçosas
Diz como quem escreve uma carta e uma geografia
Diz de quem fala diz de quem vê diz de quem espreita
Gatos persas a viver à fresca nos pombais
E quando e se alguma vez te cansares
de linhas cifradas como tantas destas
cheias de animais e alguma flora
(comparecem também bispos que não vêm ao caso nas suas rezas
e não foram conversados)
e quiseres ir além da letra
Olha o meu corpo vê a minha nudez
Aquela que guardei para te passar
entre silêncios, pragas
e outras imodéstias
talvez seja este o momento de estragar alguma coisa
talvez seja este o momento de ficar ou de partir
tempos surdos,
estes.
Recomecemos pois diz-me então como passam as magnólias essas simpáticas flores de raças tão cheias de meninos e meninas a dançar o vira à espera da groselha sempre verde ao sabor da avó no sabor dos tempos verdes em que sopra o vento nas cores e na flor das gentes e era isto que eu queria dizer apenas isto tão claro e claro além do resto.
Rui A.
Publicado em 4 de Maio de 2014