As lebres são as mais bonitas, diz ela. As lebres estão prontas para correr desde que nascem: patas, olhos e orelhas, tudo funciona desde o início. Não há animal mais camuflado do que a lebre. Uma lebre só se veste de prado, na distância que a separa de ti. Uma lebre está nua sob o céu. E os ouriços-cacheiros, pergunto, como são os ouriços? Os ouriços-cacheiros, diz ela, são míopes, lentos, sempre a vasculhar nos arbustos, como pequenos trapeiros. Também são bonitos, mas diferentes, acanhados. A maneira como eles tentam encobrir a brandura num forte de espinhos. Como nunca conseguem ocultar-seem si mesmos. As lebres, diz-me depois de uns momentos, as lebres são ouriços do avesso. Ingmar Heytze, trad. Maria Leonor Raven-Gomes