Vi-te pela primeira vez debaixo do quadro electrónico. Que se agitava e movia como uma roda da sorte; novos horários, comboios extra, locais para onde viajar. Tinhas ficado à espera, mesmo sem saberes do quê, disseste-mo essa noite sob as estrelas que observávamos através da janela do sótão. Como se o fim estivesse adaptado à forma contida nele desde o início, veio uma manhã em que te foste embora. Murmuraste ainda algo sobre cometas que não sabem onde a trajectória os leva. Levei-te à estação. O átrio parecia agora muito maior, a luz incidia de forma estranha – vi-te pela última vez debaixo do quadro electrónico, que matraqueava destinos como se o tempo tivesse ficado suspenso. Olhaste para cima, escolheste um cais longínquo. A escada rolante engoliu-te. Ninguém se voltou para olhar para trás. Ingmar Heytze, trad. Maria Leonor Raven-Gomes