Tu que desde cedo aprendeste para aí entre os dois e os doze anos a lidar com as palavras com um jeitinho que a todos encantava Tu que com as palavras formaste frases dispostas a infinitos como se fossem muitos barcos à vela Tu que das palavras cuidavas como se fossem moedas boas, as que nos deram como exemplos nos anos entre coisas que gostamos Tu, que até os poucos palavrões que guardavas para as moscas pareciam escolhidos a dedo e quase aristocráticos (embora fosses rápida, persistente e até violenta na forma como lhes davas caça; essa não era uma guerra literária, era uma guerra justa, e nunca que se saiba um livro de capa dura foi arremessado). Tu que desde cedo para aí entre os dois e os doze anos aprendeste a lidar com as palavras com um jeitinho que a todos gostava (e de passagem tinhas o tempo e a atenção de dar as bonecas à filha da criada) Tu que formaste frases com barcos nas palavras e fizeste mais de mil e quatrocentos infinitos Tu que tanto prometias apenas porque estavas, Tu. Depois, com o tempo (como tantas vezes sucede com tantos de nós os desta casta), acabaste a plantar jardins franceses altamente controlados e por vezes escusadamente agressivos (com uns quantos atalhos que às vezes faziam as vezes de organizar o que falta), entre alguns parenteses plurais e pouco económicos que nos sucedem e familiares aos quais ligamos de vez em quando quando dá jeito. E se me quisesse despedir de ti ou apenas rever-te (ou uma destas coisas para que a outra sucedesse) nem sei onde ou quando ou como iria. E do próprio porquê não me lembro já há muito se tornou mania de velho, esquecida desde quando larguei os meus sete anos. Escrevê-lo é nomeadamente agora passar o tempo e percebê-lo mais ou menos (no tempo passado, o mais adequado) a passar por nós. Rui A.