Porque tem consciência da inutilidade de tantas coisas às vezes uma pessoa senta-se tranquilamente à sombra de uma árvore – no verão – e cala-se. (Disse tranquilamente?: falso, falso: uma pessoa senta-se inquieta fazendo estranhos gestos, calcando as folhas abatidas pela fúria de um Outono sombrio, destruindo com os dedos o cartão inocente de uma caixa de fósforos, mordendo injustamente as unhas desses dedos, cuspindo nos charcos invernais, golpeando com o punho fechado a pele rugosa das casas que permanecem indiferentes à passagem da primavera, uma primavera urbana que faz assomar com timidez as ma- deixas dos seus cabelos verdes lá no alto, por trás do zinco escuro dos algerozes, levemente arreigada à matéria efémera das telhas prestes a tornar-se pó). Isso é certo, tão certo como eu ter um nome de asas celestiais, arcangélico nome que a nada corresponde: Ángel, dizem-me, e eu levanto-me disciplinado e direito com as asas mordidas Ángel González