Atreve-te a julgar. Julga os outros julgando-te a ti mesmo. A natureza das coisas é a tua natureza. Respira-te, despe-te, faz amor com as tuas convicções, não te limites a sorrir quando não sabes mais o que dizer. Os teus dentes estão lavados, as tuas mãos são amáveis mas falta-te decisão nos passos e firmeza nos gestos. Procura-te. Procura encontrar-te antes que te agarre a voracidade do tempo. Faz as coisas com paixão. Uma paixão irrequieta que não te dê descanso e te faça doer a respiração. Aspira o ar, bebe-o com força, é teu, nem um cêntimo pagarás por ele. Quanto deves é à vida, o que deves é a ti mesmo. Canta. Canta a água e a montanha e o pescoço do rio, e o beijo que deste e o beijo que darás, canta o trabalho doce da abelha e a paciência com que crescem as árvores, canta cada momento que partilhas com amigos, e cada amigo como um astro que desponta no firmamento breve do teu corpo. E canta o amor. E canta tudo o que tiveres razão para cantar. E o que não souberes e o que não entenderes, canta. Não fujas da alegria. A própria dor ajuda-te a medir a felicidade. Carrega nos teus ombros os séculos passados e os séculos vindouros, muito do pó que sacodes já foi vida, talvez beleza, orgulho, pedaços de prazer. A estrela que contemplas talvez já não exista, quem sabe, o que te ajudou a ser vida de quantas vidas precisou. Canta! Se sentires medo, canta. Mas se em ti não couber a alegria, não pares de cantar. Canta. Canta. Canta. Canta. Canta. Constrói o teu amor, vive o teu amor, ama o teu amor. De tudo o que as pessoas querem, o que mais querem é o amor. Sem ele, nada nunca foi igual, nada é igual, nada será igual alguma vez. Canta. Enquanto esperas, canta. Canta quando não quiseres esperar. Canta se não encontrares mais esperança. E canta quando a esperança te encontrar. Canta porque te apetece cantar e porque gostas de cantar e porque sentes que é preciso cantar. E canta quando já não for preciso. Canta porque és livre. E canta se te falta a liberdade. Joaquim Pessoa