Olhos atentos
A degradação é o passaporte do vilão,
A nobreza é epitáfio do nobre.
Olha: como o céu dourado é inundado
do reflexo das sombras torcidas dos mortos.
Passada a época do gelo,
Por que ainda há gelo em toda a parte?
Já foi descoberto o Cabo da Boa Esperança,
por quê mil velas ainda competem no Mar Morto?
Eu vim para este mundo
trazendo apenas papel, corda e sombra,
para anunciar antes do julgamento
a voz que tenha sido julgada:
Tenho de te dizer, mundo,
Eu-não-acredito!
Mesmo que haja mil desafiantes a teus pés,
conta comigo como o milésimo primeiro.
Não acredito que o céu seja azul;
Não acredito em ecos do trovão;
Não acredito que os sonhos sejam irreais;
Não acredito que a morte não seja retaliada.
Se o mar é destinado a quebrar os diques
deixa que todas as águas amargas me encham o coração;
Se o continente é destinado a crescer
deixa a humanidade optar por outro pico da existência.
Novas mudanças e estrelas a brilhar
estão a adornar o céu sem obstáculos;
São pictogramas de cinco mil anos.
São os olhos atentos das gerações futuras.
Bei Dao
Publicado em 10 de Julho de 2014