A minha sombra sou eu, ela não me segue, eu estou na minha sombra e não vou em mim. Sombra de mim que recebo a luz, sombra atrelada ao que eu nasci, distância imutável de minha sombra a mim, toco-me e não me atinjo, só sei do que seria se de minha sombra chegasse a mim. Passa-se tudo em seguir-me e finjo que sou eu que sigo, finjo que sou eu que vou e não que me persigo. Faço por confundir a minha sombra comigo: estou sempre às portas da vida, sempre sempre às portas de mim! José de Almada Negreiros