Eram, na rua, passos de mulher. Era o meu coração que os soletrava. Era, na jarra, além do malmequer, espectral o espinho de uma rosa brava... Era, no copo, além do gin, o gelo; além do gelo, a roda de limão... Era a mão de ninguém no meu cabelo. Era a noite mais quente deste verão. Era no gira-discos, o Martírio de São Sebastião, de Debussy.... Era, na jarra, de repente, um lírio! Era a certeza de ficar sem ti. Era o ladrar dos cães na vizinhança. Era, na sombra, um choro de criança... David Mourão-Ferreira