Noli Me Tangere
Um poema é lastro. Fá-lo sucumbir.
Podes demoli-lo, se antes de acabares
Sob a parte já escrita, uma bomba,
Um mina final, armadilhares.
Acende já a mecha. Pio desejo.
Não há bomba nenhuma. E com empenho
Tens de encher o poema até à meta
Só após um slalom verá o engenho.
Por que é que, então, não paras já aqui?
Não mexas mais. Tens de to impedir.
Estás ainda a tempo. Mas já a mão foge.
Um poema quer-se perfeito para não existir.
Gerrit Komrij
Publicado em 31 de Agosto de 2014