Noite, velada Noite, faz-me teu poeta! Deixa-me entoar as canções de todos aqueles que, pelos séculos dos séculos, se sentaram em silêncio À tua sombra! Deixa-me subir ao teu carro sem rodas que corre silencioso de mundo a mundo, tu que és rainha do palácio do tempo, escura e formosa! Quantos entendimentos ansiosos penetraram mudos no teu pátio, vaguearam sem lâmpada pela tua casa, À tua procura! Quantos corações, que a mão do Desconhecido atravessou com a flecha da alegria, romperam em cânticos que sacudiam a tua sombra até aos alicerces! Faz-me, ó Noite, o poeta destas almas despertas que contemplam maravilhadas, À luz das estrelas, o tesouro que encontraram de repente; o poeta do teu insondável silêncio, ó Noite! Rabindranath Tagore