Esférico, que no teu voo não cessas de oferecer o calor de duas mãos com indiferença. O que nos objectos não pode permanecer, demasiado pesado para eles, pouco mas suficiente, para que não possa, de repente, deslizar em nós, invisível, a tudo o que lá fora se alinha, em ti desliza, entre queda e voo, indecisa. Elevas-te primeiro como se o tivesses levado contigo, arrebatado, e libertado, depois inclinas-te e ficas suspensa — e lá do alto mostras, de súbito, aos jogadores uma nova jogada, dispondo-os, como se fossem figuras dum bailado, para logo a seguir, desejada e esperada por todos, rápida, simples, natural, sem pesar voltares a cair nas mãos que se elevam no ar. Rainer Maria Rilke, trad. Jorge Sousa Braga