Sei como eles passam o portão à noitinha. As mãos ainda côncavas de acariciarem as cabeças dos filhos, as costas dobradas. Trazem na roupa o exterior e cheiros a comida, pêlos de cão, cerveja, o cheiro a mulher quente e últimos cigarros juntos, lençóis enxovalhados. Olho para os homens a lavarem-se deixando para trás sabão, pó e saudades. Sei que as mulheres ficam junto aos portões. Os casacos abotoados até ao pescoço, As mãos nos bolsos, cabeças curvadas. Como os homens avançam em silêncio. Ester Naomi Perquin, trad. Maria Leonor Raven-Gomes