E eles queimam no asfalto molhado os reflexos das inúmeras luzes da rua. Piscando vivem e morrem e vivem na brilhante esfera escura de um planeta solitário. Destemido, o vento insufla os lençóis líquidos esboçando imagens abstractas. Por outro lado, nós buscamos abrigo como moscas no inverno, moscas aprisionadas na amarga neve. E quem irá escutar isto, e quando, e como para explicar a súbita alquimia ao espelho: este monstruoso pedinte? Talvez a exacta pessoa que todos os dias atravessa a rua ao mesmo tempo, aí está quem. Lembramo-nos de dias e casas, de quando éramos amantes da verdade. Molharam-se, os meus papéis caídos na calçada, tinta turva voou das palavras, e a partir de agora, memórias daqui para o futuro. Rikardo Arregi